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Biografia
I
Nasci quando o sol surgia,
Manhã de setembro, quinto dia,
Mamãe trinta e sete, papai quarenta,
Quatro irmãs me antecediam.
De parto normal, forte menino,
Quem me viu primeiro foi a parteira,
Também sei que ela era enfermeira,
E segundo minha mãe foi a primeira,
A dizer que eu era forte e bonito.
Foi no final da Rua Chavantes,
Número, não sei, casa de madeira,
Anos cinquenta, quase primavera,
Vagas lembranças, mulheres nas janelas,
Crianças peladas brincando na terra.
Depois de alguns anos, a mudança,
Paiaquás, rua quieta, beira da linha,
Cheiro de tinta fresca, gritos pela casa,
Ecos, e um pé de amora na beira da cerca.
Vapor, serraria , brinquedos, fogueira
,
Nas tardes meu pai me levava pra estação,
E ali extasiados vendo, os carros, os vagões
Eu dizia lhe os meus sonhos de então,
Para ele um calhambeque, pra mim um carrão.
14/04/2013- domingo- 23h41
Parte II
Primeiro ano, professora primeira,
Dona Aparecida, bondosa, faceira,
Segundo grupo escolar, perto da avenida,
Onde hoje funciona o Corpo de Bombeiros,
Em tempos de chuva, pela Rua Nhambiquaras,
Descíamos da Paiaquás, cruzando a Tabajaras.
,
Atravessávamos às vezes fortes enxurradas,
E já na Mandaguaris, ao cruzar o Jardim Dom
Bosco,
Fascinava-me a grandiosidade daquela estatua,
Um homem tal qual gigante, um menino,
Um sentimento no peito profundo, divino.
Quando já no segundo ano, outros planos,
Caminhão, mudança, vômitos de banana,
Poeira da estrada na cara, entre bugigangas,
Flores, cachorro e samambaias,
Cidade pequena, duas longas avenidas,
E lá quase no fim de uma delas, numa travessa,
Casa de madeira velha, empoleirada, enegrecida,
No quintal muita areia e uma grande paineira.
E um festival de baratas,
As tarefas rotineiras, rachar lenha, puxar
agua,
Correr atrás das galinhas, e a noite ir à
esquina,
Ver um cearense cantar: “Noite cheia de
estrelas”
Às vezes também sair em desabalada carreira,
Correr do medo, em um passeio qualquer,
Passar a ponte mal assombrada,
Onde diziam ter achado algumas caveiras,
Chegar em casa aliviado mas com muita canseira.
Mas lá pras bandas do centro da cidade,
Meu pai conseguiu um terreno, de esquina,
Ali fizemos uma casa, uma primavera ao lado,
E em frente, em grande e belo gramado.
Doze anos, quarta série, um menino apaixonado,
Menina de verdes janelas, os olhos esverdeados,
Uma amizade sincera, um sentimento escondido,
Um amor que agora eu sei, nunca foi
correspondido.
30/04/2013 – terça-feira – 16h04
Parte III
E nem só aquelas janelas
.deixei em versos estampado
Ficou teus olhos, teu riso aberto
Teus passos ecoando no asfalto
E as ilusões daquele menino apaixonado.
Belos tempos aqueles do ginásio
Saia de casa seguia avenida afora
Dobrava
a rua do cinema
E pela “ Alagoas “ sem problemas
Íamos embora, eu, O Gava
A Regina e por vezes outros amigos
Inda ouço alto em meus ouvidos
Aquele alarido gostoso dos intervalos.
Coxinhas da
Dona Isaura
Burburinhos em salas de aula
“Fusquinhas” em comemorações
Sala
nobre,
orfeão
E o “Doda” procurando pelo salão
O time dos engraçados
Mas quando ele olhava
Ficávamos todos comportados.
Por fim, a formatura
Primeiro
terno, salão de costura
Entre o cinema e a avenida
Seu
Josino, grande homem, bom amigo
Dou-lhe um merecido lugar neste poema
Colação, baile no “galinheiro”
Luz, negra, emoção
Bate mais forte o coração
Leopoldo e sua orquestra no salão
Ultima valsa, ultima canção
Olhos no olhos, suor nas mãos.
Inicio de sessenta e oito
Alcei um pequeno voo então
Entrei no meu curso normal
Cidade Tupã, Índia Vanuire
Instituto de Educação
Toda segunda, trem das nove
Rumo a Herculândia, eu e meu pai
Saudades vêm, saudades “vai”
Balanço que vai entoando
Cantigas iguais.
Calhambeque
do seu Arquiminho
Fumo de corda, pó de serra, serraria,
E a noite “latão” seguindo de mansinho
Pra escola todo dia
Entre idas, voltas e cantoria.
A meia noite quando eu voltava
seguia
sozinho na rua vazia
O latido dos cães nas ruas em sinfonia
Trilha sonora pra versos que nasciam
Meu pai que acordado me aguardava,
a gente conversava
E caia no sono pra tudo recomeçar noutro dia.
Era assim toda semana. O sábado chegava
A gente fazia a mala e partia
O trem noturno das sete nos esperava
E pro nosso aconchego a gente ia
Final de semana, minha mãe, minhas irmãs
Minhas doces
e verdes janelas
Meu Deus
quanta alegria.
No ano
seguinte fiz transferência
Deixei Tupã, fui estudar em Lucélia
Satiko, Laudeci, Gava, Glicéria
Maria Lúcia e as meninas de Iacri
Diva, Tereza, Marlene
Em principio táxi do Lombardi
Idas e vindas tão lindas, depois trem
Tempo bom que não mais vem;
04/10/2016- terça-feira -18h51
Parte IV
Vinte anos, bagagem nas costas
Abraço apertado, a porta aberta
O trem na estação parado
Tres longos apitos, u m último aceno
Hora de dizer ate mais pro meu doce passado
A estação foi ficando um ponto distante
Passei o pontilhão, revi todas as ruas
As casas desfilavam em correria
No peito uma dor dilacerante nascia
E naquele balanço da viagem
Eu fazia a minha passagem
Da doce adolescência pra mocidade
O trem rompendo a madrugada
As primeira luzes, as primeiras casas
Coração em sobressalto
Só ruas desertas, paisagem adormecida
Suburbios, silencio e mais nada
Somente o apito, aquele apito dilacerante
Anunciando a chegada
Depois os prédios, as avenidas
Estação da Luz, São Joao
Duque de caxias, Sorocabana
Trem subúrbio, Osasco e Vila Yara
Uma casa azul, portão ao lado
E no fundo,
alguns quartos
Cama de campana, sereno, pulgas
BHC sob o lençol, bengalas e pingados
Primeiro trabalho,
Cidade de Deus, Cobrança Fora,
Poesias
nascidas Em papeis amarelados
Amigos nascentes, tragadas em cigarros
Mudança pro quarto 54, conjunto C
E aos domingos pro aconchego da “ Gonçalo”
Rua de arvores quietas e empoeiradas
Um amigo pra vida inteira
Peladas na serraria, caipirinha e macarronada.
Cursinho à noite na cidade
Consolação – Etapa, Liberdade – Capi
Õnibus lotados, prostitutas nas calçadas
Suor, fome, cansaço, e noutro dia trabalho
Tempo de repressão, uma linda canção
“ Pra não dizer que não falei das flores”
Policiais, metralhadoras, medo , agonia
Pesadelos, gritos, noites frias e dores
A nossa alegria, cinemas na cidade
Copam, Cinerama
e outros afins
Lanchonete em finais de semana
Cerveja, xburger, Campari
Cavalos de pau, que saudade
Gatinho Drulhinho, auto cine Moon
E o Hélio Ribeiro no radio
Canções traduzidas, emoções contidas
Partidas, chegadas
Roupas no varal dependuradas.
Mas foi na Sacadura
Uma imensa rua
de um quarteirão
Que me viu tantas vezes noite afora
Descer a Santa Terezinha
Que deixei meu coração
E em seu lugar levei tantos afetos
Dei adeus pros meus amigos
E voltei peito dolorido ao meu rincão
Pros braços dos meus pais e meus irmãos
Chorei na partida, chorei na chegada
Mas era preciso seguir a caminhada
22/07/2015-quarta feira- 23h48.
Parte V
Casa de esquina, doce madrugada
Chegada, abraços, mochila e lágrimas
O cenário agora modificava-se
As saudades cada vez mais acumuladas
Trabalho fora, um pouco distante
Era o que se tinha pra viver agora
Não mais Osasco, nem Bradesco
Nem Vila Yara, nem mais nada
Nem mais almoço aos domingos na Sacadura
Aquela rua de um
imenso quarteirão apenas,
Guardada pra sempre
no fundo do meu coração
Tudo aquilo agora um doce retrato
Emoldurado nas minhas emoções
Musica sertaneja, cavalos, poeira
Que hoje faceira em mim se levanta
Nossa Caixa, Pacaembu a cidade primeira
Hotel São Paulo, quarto de pensão
Linguiça ensopada, queijo empanado
Café da manhã, almoço, janta
Sessões de cinema a semana inteira.
Chegava-se quando a tarde de domingo já descia
Voltava-se de trem nos finais de semana
Parapuã-Pacaembu, Pacaembu-Parapuã
E o tempo todo, uma
louca vontade
De romper as distancias das cidades
Pacaembu, Parapuã, Osasco:
Saudades.
Deixar pra trás todo aquele cenário
E nadar feliz de
volta pro meu aquário
Ali estava eu
repleto de saudade e mágoa
Um verdadeiro peixe fora d’água.
Mas foram tão poucos
os meses
Deixei Rita, Tião, Alexandre, Neide
E entre tantos outros amigos
Dos quais inda me lembro muitas vezes
Entre lágrimas contidas que ninguém imagina
Deixei Pacaembu pra sempre
Cheguei a Adamantina.
15/06/2016 – quarta-feira – 00h08
Parte VI
Hotel Santo Antônio,
em principio
Edgar, Joel, Rua Deputado Sales Filho
Depois, viagens todo
dia
Mal amanhecia, duas
quadras de casa
Estação rodoviária, Expresso Adamantina
Lenir, Álvaro, Sonia, Luiza, Gilberto, Idalina
Neusa, Carmo, Ana, Alice, Carlos Lacir
Novos amigos, rissoles à tarde
Banco de jardim, corcel de amigo.
Faculdade em Lucélia, hora de ir
Hora de voltar, meia noite.
Silenciosa Rua Paraíba em minha cidade
Casa de esquina, pequena, divina.
Quatro anos nesta vida: diplomado
Um adeus, coração
apertado
Don’ t cry for
me ADAMANTINA.
Autor
Carlos Marcos Faustino
22/09/2016- quarta-feira -01h18
Parte VII
Tupã, Nossa Caixa, esquina
Tamoios, Carijós, novos amigos
Curso de Direito, casa da minha irmã
E nos finais de semana,. Parapuã
Meus pais, minhas
lembranças,
Vida nova, mudanças
Foi assim o ano inteiro
Depois uma casa, nos altos da Santa Casa
Pequena, acolhedora, bonita
Minha mãe, meu pai,
Um ai de saudades deixando pra trás
Um belo tempo, toda
uma vida
Desenhada naquela antiga moradia
Daquela pequena cidade
Casa, cidade, amores, amigos
Estampada em nossos
corações
Pro resto dos nossos dias.
Uma nova agencia construída
Pré –fabricada, a
toque de caixa
Aimores, próxima da avenida
E Por ali anos e anos chegaram amigos
Amigos se foram,
amigos partiram
Curso terminado, formatura
Album de direito, foto
na parede
Minha mâe, amor desta vida
Fez sua despedida e
em 1987
Virou estrela.
Fez-se necessário, mudar
o local de trabalho
Um prédio na esquina, interno serviço
Por um bom tempo, depois chegou o momento
Marilia ou de novo
Adamantina.
Parte VIII
Marilia la vou eu,
Joel meu amigo,
Onibus cedo, ônibus a tarde, viagens
daqui fomos eu e a
“Galli.”
Eram corridas nos finais de tarde
Onibus não espera se vc se atrasa, parte
Mas logo me acena uma quase volta
Adeus novamente , Adeus Marilia bela
Uma nova esperança. Quintana
De braços abertos, bem mais perto
Bem mais perto
O Cristo no trevo, a rua comprida
Uma agência pequena, bonita
E aconchegantes amigos
Pra uma vida inteira.
Ali tive historias que guardo comigo
Foram nove anos muito bem vividos
Churrascos,
assaltos, tratores no asfalto
Protestos de agricultores
E muitos, mas muitos
amigos
Quintana dos meus jardins
Tu foste uma das
mais belas flores
Mas veio o tempo,
E por trás dum triste sorriso de Adeus
Deixei os braços teus
E Voltei ao palco que me viu nascido
08/12/2016 –
quinta-feira -22h10
Parte IX
Não que eu quisera ter vindo
Quintana era um jardim florido
Nove anos ali vividos
Já quase me tornara um de seus filhos
Lutei, mas não teve
jeito
Mesmo a contragosto, contrafeito
Fui requisitado, obrigado
E assim me vi transferido
Era reabertura dum
posto de serviços
Em principio, eu e mais um amigo
Foi uma boa convivência
“Miranda” um cara especial
Bons clientes, bom clima
Eu não queria era voltar pra “ cima”
Mas uma terrível doença
Não tardou a levar meu companheiro de serviços
E em decorrência disso
Tempos depois fui transferido pra agência
Foi mal, foi bom em outro sentido
Apesar de muita pressão e cobrança
O aconchego de bons amigos
Mas sede de lucros ,
metas diárias
Eram como setas que nos sangravam aturdidos
E vencendo dia a dia, cada
etapa
Chegou 2008 e eu já tudo havia cumprido
Meus trinta e oito anos de serviços
E então, a salvação com alegria
Saí imune nos braços da aposentadoria
Fiquei saudoso dos meus amigos
Eram tantos que ficaram
Pra ver o nosso banco ser vendido
E foi triste um pouco mais à frente
Ver todo aquele
cenário destruído
O fogo consumiu todas as lembranças
As labaredas transformaram tudo em cinzas
E hoje se passo por lá ainda
Tudo o que vejo é um
muro alto
E um vazio imenso de todo aquele passado.
28/04/2017 – sexta-feira – 13h31
X
Os anos passam depressa
Já me acena anos 70
Mais um ano que me leva
Bye bye, bye anos 50
Acelera trem da vida
Logo é hora da partida
Adeus amigos sinceros
Adeus amor, adeus filhos
Da vida o que mais quero
É poder deixar escrito
Minha história toda em versos
Pois sei no momento certo
Seja agora ou qualquer dia
Encerra-se essa biografia
Carlos Marcos Faustino
faustinopoeta
Primeira postagem 30/04/2013
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