Conto
Viagens aos tempos de criança
Chaminé! Não sei por que a chamavam assim. As irmãs e o agregado ( um rapaz que morou
uma temporada com a família) batiam palmas e provocavam o menino, enquanto
repetiam alto o nome da menina. Chaminé! Chaminé! Chaminé!
Crianças geralmente não gostam quando fazem alusão a um
possível namorico deles com alguém, principalmente quando esse alguém não é
exatamente o tipo de pessoa que namorariam. O menino retrucou quase sem pensar
soltando o verbo mesmo e acusando o rapaz que fazia as provocações junto com
suas irmãs, dizendo que ele então ficava
cobiçando ( perdoem-me os leitores mais conservadores) as bucetas das meninas
quando passavam pela rua.
O pai que acompanhava a cena, ficou lívido, todos ficaram por momentos
estáticos. A situação não ia tomar bons rumos.
De cinta em punho, pegou o menino e começou a surra-lo pra que ele nunca
mais dissesse um palavrão daqueles, principalmente na presença de adultos. Foi
preciso a interferência de uma vizinha por nome de Dona Laura pra que se
encerrasse aquela terrível cena. O menino ficou com as costas toda marcada pelas cintadas do pai.
Era assim que os filhos eram educados naqueles tempos. Mas
esta não fora a primeira surra que tomara. Em tempos anteriores quando ainda
moravam numa outra cidade, certa feita,
brincava o menino no portão com a irmã, abrindo-o e fechando, aproveitando para
ambos subirem nele no momento em que se fechava. Ocorre que tinham um cão por
nome de Tarzan que há tempos estava de marcação com um vizinho que sempre que
passava por ali e ficava atiçando o cachorro através da cerca que circundava a
casa.
Os meninos continuavam na sua inocente brincadeira e não
perceberam que o tal vizinho se aproximava vindo pela rua em direção a eles ,pois, residia bem ali ao lado. O cão quando o
viu aproveitando-se do momento em que o
portão se abria, saiu em disparada de
encontro ao homem. Pulou contra o seu
peito e iniciaram um luta de vida ou morte. Todos ficaram apavorados
porque não conseguiam separa-los, o cão não obedecia aos chamados tal a raiva
que sentia. O remédio foi chamar o pai que estava trabalhando na serraria que
ficava próxima a rua que moravam.
Subindo o barranco que limitava a firma
com a rua, preocupado com o rumo
que a s coisas estavam tomando, o senhor conseguiu separar a briga e em
seguida foi atrás dos culpados pelo
acontecimento. As crianças correram e se esconderam em baixo da cama, mas o pai
as achou castigando-as com algumas chineladas.
Ali naquela final de
rua que moravam, também se reuniam com outras
crianças em grandes brincadeiras. Foi ali naquela casa também que certa
feita o garoto ao subir na cerca para
alcançar algumas amoras dum pé que ficava próximo a ela, caiu e acabou se machucando.
Voltando a cena em
que apanhara do pai por dizer um
palavrão já morando em outra cidade, vale dizer também que a casa que os acolhera quando chegaram de
mudança na cidade não era nada que agradasse aos olhos e ao coração. Era uma
casa velha sobre quatro estacas, com muita areia no quintal e também com uma
frondosa paineira. Era muito comum quando anoitecia um cearense pegar o violão, sentar nos degraus de um velho prédio comercial que por ali havia e soltar a
voz noite adentro :-“ Noite alta, céu
risonho/ a quietude é quase um sonho/ O luar cai sobre a mata/ Qual uma chuva
de prata/ De raríssimo esplendor/ Só tu dorme, não escutas o teu cantor...”
As lembranças daqueles primeiros anos de vida nunca mais
saíram de sua imaginação, momentos tão felizes que mesmo depois de adulto ainda
despertam as mesmas emoções.
Autor
Carlos Marcos Faustino
21/03/2013- Sexta Feira- 01h57ms
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